Não é fácil, pequena criança 1


Por Anna Cruz

Há assuntos que de tão pesados só deveriam dizer respeito a adultos.

Se nem quem soma pares de décadas sabe como acomodar as dores de morte, solidão, doença, que dizer de um pequenino?

Entretanto, é claro, em todo lugar e a todo momento, as crianças têm que lidar com esses acontecimentos: a perda de um parente, saudade de um amigo que se muda, separação dos pais, bichinho que se vai, uma temporada no hospital.

Sempre acreditei que um livrinho pode ser o melhor instrumento para acessar esses temas complicados. Sem ser explícito, o livro permite que haja empatia com o personagem, com a história, mantendo, contudo, um distanciamento respeitoso e seguro.

A ilustração atenta aos detalhes é tão valiosa quanto uma foto daquele instante que ninguém poderia retratar. E se o livrinho tiver um final feliz, ou pelo menos um final sereno, será aquela piscadela de cumplicidade, como se sussurrasse “aguenta firme, vai dar certo”.

Esquilo

Uma grande amiga me indicou (e como adoro receber indicações!) “Não é fácil, pequeno esquilo” (Elisa Ramón & Rosa Osuna), da editora Callis.

O caso é o que segue: o esquilinho está profundamente triste pela morte recente da mamãe esquila. Nas primeiras páginas, a dor é tão pungente que ele nem se deixa ver: está ali, cabisbaixo, mãos sobre os olhos, recusando-se a seguir em frente, imerso em suas emoções.

O papai esquilo esforça-se para consolá-lo (“´mamãe sempre estará conosco…´ e com a mão acariciava o peito: ´aqui´”), quer preencher os espaços vazios deixados por ela, mas o filho recusa-se a qualquer aproximação.

E então, a cada folha virada, como os dias que se passam, aquele pequeno órfão depara-se com uma vida inadiável: encontra outros amigos com suas mães e sofre por não ter a sua, procura uma amiga, ainda que seja para chorar e aconchegar-se, agarra-se a uma echarpe da mamãe como se a abraçasse, desenha mamãe esquilo aqui e ali, relembra a mamãe nas lições que o ensinara, até que, com um arrepio, entende que a mãe esquila estará sempre consigo porque o amor, efetivamente, não morre.

esq

É raro o tratamento da morte sem recorrer a religião ou a figuras que, em minha opinião, postergam questões, como o “virou estrelinha”.

Assim, o “Não é fácil, pequeno esquilo” merece ainda mais reconhecimento: é um livro honesto, mostra que a morte dói, sim, que o luto é elaborado dia a dia, com a ajuda de amigos, de familiares, de memórias e até mesmo objetos (o cachecol da mamãe esquila e as fotografias que o papai pendura na parede são claramente um amuleto), sem apelar para metáforas ou suporte religioso.

Não é fácil, não é mesmo.

 

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MUITAS IDEIAS PRONTAS PRA USAR!Não é fácil, pequena criança 2

 

Conheça a AUTORA!

Destacada ANNAAnna Cruz é graduada em Direito, especialista em Geriatria e Gerontologia, mestre em Direitos Humanos.

Autora do livro “Vulnerabilidade humana e envelhecimento: o que temos a ver com isso”,  editado pela Portal Edições, 2015.

É mãe da M.L. e da C., filha da Vera e do Orlando, da Ana Maria Machado e do Ziraldo, da Ruth Rocha e do Sidónio Muralha, da Eva Furnari e do Roald Dahl, da Silvana Rando e do Michael Ende, da Sylvia Orthof e do Ilan Brenman.

Conhecida também por “Dona Sobre”, por conta do instagram @sobreissoeaquilo

 

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