Por Carol Braga
O brincar é fundamental para a formação do indivíduo. E ponto final.
Esse texto poderia terminar antes mesmo de começar. Mas infelizmente vivemos em um mundo em que campanhas são realizadas com o intuito de conscientizar adultos sobre a importância de brincar com seus filhos. Um mundo onde precisamos ficar o tempo todo tentando explicar a importância de brincar para o desenvolvimento humano.
Ou o que é pior: quando precisamos de profissionais para interpelar instituições de ensino lembrando-as de que brincar é um direito que impõe dever de ação a professores, diretores e pais, garantindo assim tempo e espaço para que a brincadeira aconteça (sim, infelizmente isso acontece Brasil afora). E quando falo em crianças não me refiro apenas às menores de 6 anos.
Brincar é direito que deve ser exercido também por crianças maiores de 6 anos. Aliás, brincar deveria ser atividade obrigatória para crianças de 0 a 99 anos. Criar, imaginar e brincar sem uma lógica temporal.
Brincar é a principal atividade das crianças (ou deveria ser). A brincadeira está (ou deveria estar) para elas, assim como o trabalho está para o adulto. Criança só não deveria brincar quando estão dedicadas às suas necessidades de sobrevivência, como repouso e alimentação. Fora isso, brincadeira nelas!
A família e a escola dão hoje pouco espaço para o imaginário infantil, para que as crianças se expressem, brinquem e vivam plenamente a infância. As crianças já perderam as ruas e os grandes quintais de antigamente.
Os parques e espaços comuns de brincadeiras estão diminuindo de tamanho a cada dia nas escolas. A escola está séria, careta e preocupada em ensinar coisas que fogem do interesse da criança. Isso porque cada vez mais famílias procuram espaços para preparar seus filhos para o futuro, fazendo com que se tornem adultos mais cedo.
Preparar a criança para o futuro é até aceitável, mas fazer com que ela perca a infância por isso é inadmissível. Uma amiga escritora e pedagoga me ensinou certa vez que “a infância não é tempo de preparar para a vida, a infância é vida”.
Para as crianças, o brincar é um modo de aprender e se desenvolver. E não importa que elas não saibam disso. Ao fazer essas atividades, elas vivem experiências fundamentais para o seu desenvolvimento. Na perspectiva da criança, brinca-se pelo prazer de brincar, não porque suas consequências sejam eventualmente positivas ou preparadoras de alguma coisa.
É como ler para bebês. Por que ler para crianças tão pequenas, se elas mal sabem falar?
Em primeiro lugar é importante lembrar que ler para um bebê não significa tentar alfabetizá-lo, nem investir para que possa escrever mais rápido e melhor, nem mesmo trata-se de ensiná-lo a nomear cores ou distinguir os nomes dos animais. Nada disso. Ler para os bebês, antes de qualquer coisa, pode ser uma grande oportunidade para criar experiências estéticas de desenvolvimento da sensibilidade, da criatividade, da imaginação e de conexão com o mediador.
Com a brincadeira acontece a mesma coisa. No brincar, objetivos, meios e resultados tornam-se indissociáveis e envolvem a criança em uma atividade gostosa por si mesma, pelo que proporciona no momento de sua realização. Do ponto de vista da formação isto é fundamental, pois possibilita à criança aprender consigo mesma e com os objetos ou pessoas envolvidas nas brincadeiras, nos limites de suas possibilidades e repertório de mundo.
Por esse motivo é tão importante que pais e filhos brinquem juntos e que espaços para o livre brincar sejam oferecidos.
Durante a brincadeira, as coisas mais importantes da vida de uma criança (o espaço, o tempo, seu corpo, seus conhecimentos, relações, pessoas e objetos) são oferecidas a uma situação na qual ela, quase sempre, é a única protagonista, ou seja, a responsável pelas ações e fantasias que compõem essa atividade. Mais tarde, nos adolescentes, adultos e até na terceira idade, o brincar continua com a mesma função. Em nós, o brincar representa a saudade ou a recuperação daquela criança que fomos um dia e que dava sua vida por mais um minutinho de brincadeira quando, ao cair da noite, a mãe gritava no portão “hora de entrar”.
O escritor Elias José sabiamente escreveu em um de seus livros: “ninguém vive duas vezes a infância, mas ela é revivida sempre e traz as marcas, os cheiros, os gostos, os sons e as cores do passado”. E eu termino esta reflexão, perguntando: quais marcas, cheiros, sons e cores você quer que seu filho se lembre no futuro?
Construa boas memórias hoje e seu filho terá uma linda infância para (re) viver amanhã. Promova o brincar onde você estiver, encante os lugares por onde passar, plante sementes brincantes. E por fim, lembre-se: quem brinca é mais feliz.
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Conheça a AUTORA!
Carol Braga Ferraz é mineira de nascimento e criação, campineira por “adoção”, casada, mãe do Miguel.
É pedagoga de formação e como uma grande amiga gosta de dizer, “publicitária de coração”.
Atualmente trabalha em sala de aula com crianças da Educação Infantil e promove Encontros Brincantes na cidade de Campinas e região, com o intuito de oferecer repertório de brincadeiras de qualidade aos pais e atividades sensoriais que estimulem os sentidos das crianças de 6 meses a 6 anos, favorecendo o desenvolvimento infantil.
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